quarta-feira, 27 de agosto de 2014

DA POLÍTICA E DOS MAGISTRADOS DE LÍDIMO

O fabuloso e desconhecido principado de LÍDIMO nas montanhas entre os rios Tapajós e Jamanxim


Ver capítulo 1

Ver capítulo 2



Terceiro capítulo

Dos princípios fundamentais da política:

A política do principado é assentada em três pilares: minério livre para o lidimiano, gratuidade da carne e futebol.

A garimpagem é livre, cada lidimiano se organizando para fazer parte de uma equipe, em cada vila. O ouro é vendido ao titular da cantina da vila e depois esse titular revende para o príncipe. O preço é determinado pelo príncipe em função de diversos fatores que só ele entende e ele informa diariamente o preço a cada cantineiro que compra com um pequeno desconto. Mas o príncipe permite a concorrência entre as cantinas, para evitar preços aviltados. Só que geralmente o cantineiro arranjou as ferramentas e os produtos alimentícios, roupas, etc. para o garimpeiro que neste caso é obrigado de sanar a dívida antes de poder vender em outra cantina.
A carne que vem do vizinho é livre de pagamento e o cantineiro tem que entregar de graça o que ele recebeu gratuitamente do armazém geral. Nem mesmo o custo de refrigeração, ele pode cobrar. É a primeira mola mestre da politica do principado. Em compensação ele pode cobrar até três vezes o preço que recebeu do armazém para as bebidas, o que compensa de sobra, a gratuidade da carne.
A segunda mola mestre é o futebol, também totalmente gratuito com fornecimento de camisas, meiões, bolas e chuteiras. O futebol é à base da organização política.

Da organização política:

Cada vila faz todos os anos, a eleição de um senador.  Finalmente os senadores das vilas em número de cinquenta e quatro, mas esse número pode mudar com o sumiço ou aprofundamento do minério e, portanto fechamento da vila ou achado de novas áreas mineralizadas com construção de nova vila em um único dia; os senadores levam ao príncipe os pleitos dos seus cidadãos; a capital Lídimia sendo dividida em três seções: poente, nascente e currutela, cada quarteirão apresenta seu candidato ao senado. O principado é vitalício. E o príncipe nomeou dez senadores que são os fundadores que participaram da Conquista inicial junto com ele. São senadores vitalícios. Os outros senadores são eleitos todos os anos, mas só por graves motivos são eles mudados.  Se morrer um dos senadores vitalício, o príncipe pode nomear outro proveniente de qualquer lidimiano que tivesse se destacado, inclusive escravo. O sucessor do príncipe será eleito pelos senadores vitalícios. Todos os domingos, os senadores se reúnem em conselho com o príncipe no campo de futebol localizado num baixão já garimpado entre o bairro alto e o bairro baixo. Esse baixão foi cuidadosamente aplainado e ficou só uma área fina que faz muitos jogadores dispensar chuteiras; o campo de futebol  no baixão é o fórum para deliberar sobre os negócios do país e terminar rapidamente os processos que surgem entre os particulares, processos aliás raros. Cada senador é também responsável pela equipe de futebol da sua vila. Cada equipe escolhe as suas próprias cores.  A única equipe que tem cor fixa desde a conquista é a equipe do bairro nascente, pois o príncipe tem paixão declarada pelo time do grêmio do país Brasil.
No domingo, os jogos começam cedo e param na hora do churrasco presenteado pelo príncipe. As bebidas são vendidas em isopores na beira do campo, sendo um décimo de ouro uma lata de cerveja, mais barato que nas cantinas e muito mais barato do que na currutela. À tarde, há alguns jogos entre as mulheres da currutela que normalmente formam o assunto mais discutido da semana seguinte, inclusive das brigas conjugais do bairro de baixo e das vilas.
Quando há conflito entre duas vilas, a moção política do time de futebol que vence no campo vence no conflito. As apostas são autorizadas em ouro ou em resolução de conflitos. Praticamente, toda a política do principado gira ao redor das partidas de futebol. A lei quer que as moções de interesse sejam discutidas uma semana antes de ir à votação.  Reunir-se fora do campo de futebol ou das assembleias de vila para deliberar sobre os negócios públicos é um crime punido com a escravidão.
A única moeda em circulação é o ouro. O diamante não é autorizado como moeda e só pode ser vendido ao príncipe.
A constituição é de tal modo vigilante a este propósito que as questões de alta importância são relatadas aos senadores, que as comunicam às suas respectivas vilas. Depois, os senadores transmitem seu parecer e a vontade do povo. Algumas vezes, mesmo a opinião de todo o país é consultada aos domingos e as votações são a mão elevada.  Entre os regulamentos do senado, o seguinte merece ser assinalado. Quando uma proposta é feita, é proibido discuti-la no mesmo dia; a discussão é transferida à sessão seguinte. Desta maneira ninguém fica exposto a desembuchar levianamente as primeiras coisas que lhe passem pela cabeça, e a defender, em seguida, a sua opinião antes do que o bem geral; pois não é frequente acontecer que se recue diante da vergonha de uma retratação e do reconhecimento de um erro irrefletido. Este perigo funesto da precipitação foi previsto, e aos senadores é dado o tempo suficiente para refletir.

Dos julgamentos:

O tribunal é formado pelo príncipe, pelos dez senadores vitalícios e pelo senador da vila originária do Réu. O Réu é seu próprio advogado. Advogado não é permitido, porque seria aceitar a lei da mentira; sabem os lidimianos que o próprio réu não terá a mesma capacidade de mentir que um profissional. A própria mentira é punida por lei. Só há quatro penalidades em Lídimo: multa, pena de escravidão que não pode passar de três anos, exilio que pode chegar o máximo de dez anos e morte. Na juventude do príncipe e na época posterior a conquista, a pena de morte era usada em prioridade às demais; hoje ela é muito rara e mesmo pronunciada, ela é normalmente convertida pelo príncipe em exilio ou escravidão.

Do Cardeal

O senador do bairro de cima, também chamado de cabarezeiro geral é o que mais traz problemas ao príncipe e ao senado. A maior parte dos problemas versa a respeito de violências entre cidadãos por causa de mulheres e bebidas e entre mulheres. Uma lei especial foi instituída só para o bairro de cima (ver) http://jornaldouro.blogspot.com.br/2014/07/as-leis-do-garimpo.html. O cabarezeiro geral é puto velho dos garimpos do Tapajós. É o líder dos cabarezeiros e pode portar arma. Ele toca a currutela com mão de ferro. Com ele, puta não tem refresco quando roda peão ou foge das rígidas regras disciplinares da casa. Costuma dar surras de cinturão nas meninas desobedientes, à moda de um pai antigo. Por outro lado, compensa esse rigor disciplinar protegendo o mulherio em quaisquer circunstâncias. Por exemplo: tem um enorme armário cheio de remédios, que manipula para curar os males das meninas. Doenças venéreas, malária, dores de cabeça e outros problemas de saúde não desafiam a sua prática farmacêutica, adquirida no dia-a-dia do garimpo. As mulheres dizem que “o cabereizeiro geral” não cobra um fagulho de ouro pelos tratamentos. O cabereizeiro geral, também chamado de Cardeal, é o segundo homem mais influente de Lídimo.

Do poder executivo

O poder executivo é exercido pelo príncipe e indiretamente pelos agregados do príncipe que são geralmente parentes de Santa Helena ou Pinheiro no estado Maranhão do país Brasil  que ele mandou vir para dar apoio. Ele nomeia os agregados (sobrinhos, primos, amigos) em função das qualificações de cada um e principalmente do nível de confiança que eles demonstram. Uma das atividades que provaram o mais alto nível de confiança exercida é o papel de executores nos casos de condenação à morte na época que elas eram amplamente usadas como fator de controle e seleção. Há sobrinhos mais inteligentes que conseguiram amealhar fortunas pessoais. Os filhos e filhas não são agregados e, fora uma filha, os demais estão longe do principado atuando como pilotos, deputados ou empresários.  O príncipe tem sete filhos com três mulheres diferentes. Só a mais nova está no principado, as demais, uma está em Alta Floresta no Mato Grosso administrando uma fazenda de 12000 bois e outra têm um grande supermercado em Itaituba além de postos de combustível nesta cidade e em Santarém.

Da constituição

A constituição não escrita de Lídimo foi pensada tão somente para manter mão de obra suficiente no país, para extrair o ouro e os diamantes e para a administração e o comércio do principado. Ela foi emendada diversas vezes quando era preciso manter a coesão do principado e uma alta densidade de Lidimianos. Neste sentido, às leis procuram satisfazer os seus cidadãos, permitindo o enriquecimento dos mesmos sem eles ficarem independentes demais ou pelo menos de manter esperanças neste sentido e procura criar emulação de ascensão social e proteção absoluta contra violência e corrupção. Isto é a grande diferença entre Lídimo e o arquipélago Brasil  de onde todas as visitas deste grande país falam sobre a terrível insegurança, a impunidade dos seus meliantes e a corrupção dos seus administradores, a tal ponto que os lidimianos comparam o arquipélago Brasil com o bairro alto do seu país, que não conseguiu erradicar a violência, mas pelo menos não permite a corrupção. Outro fator que influi e muito na permanência dos lidimianos mais pobres e até dos escravos é que eles sabem que fora da segurança do principado, os riscos são muito mais altos, as possibilidades de ganhos menores e a escravidão quando é o caso, é até pior, só que sob outras formas e terminologias. Nas assembleias das vilas, filmes mostram a realidade do país com favelas, violências policiais, escravidão nas fazendas, medo das pessoas nas ruas, revoltas nos presídios, corrupção e desvios de dinheiro público e principalmente os direitos dos bandidos de assaltar e matar as pessoas honestas sem ser punidos ou com penas ridículas.

Das eleições

Além de votar anualmente nos senadores de Lidimo, os lidimianos vão votar a cada dois anos no posto instalado no vizinho, numa maquininha e normalmente eles seguem às vontades do príncipe a respeito dos candidatos que eles nem conhecem. O príncipe sabe usar esses votos para a segurança e os interesses de todos.


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