terça-feira, 24 de março de 2015

Afinal, qual é o motivo da crise das mineradoras no Brasil?

Segundo Fernando Lemos, A RETRAÇÃO DAS MINERADORAS NO BRASIL NÃO É MOTIVADA PELA PROPOSTA DE MUDANÇA NA LEGISLAÇÃO MINERARIA, MAS SIM COMO DAS OUTRAS VEZES, PELA PURA RESPOSTA AOS HUMORES DO MERCADO.



Um Balanço do PDAC 2015 publicado ontem, segunda-feira, 23 de março de 2015 pelo advogado e geólogo Luís Azevedo demonstra isto:

Estivemos em mais um PDAC no começo de março. O evento, como se esperava, estava condizente com o clima ameno dos investimentos, isto é, um tanto quanto vazio, sendo notória a ausência de brasileiros que costumam estar presentes. No entanto, não nos pareceu ser uma exclusividade nossa este clima de fim de festa.
Ficaram evidentes os esforços da organização para tentar transmitir mais otimismo e disfarçar o esvaziamento do evento. Para tanto, criaram um novo pavilhão logo no hall do Hotel Intercontinental antes do pavilhão dos eventos, aumentaram os espaços de circulação, dentre outras medidas. Mas para os que participaram do PDAC ao longo dos últimos anos, foram nítidos os sinais de que estamos diante de uma nova realidade. As mesas e cadeiras para bate papo estavam quase todo o tempo com lugares disponíveis, o café estava sempre sem filas e vimos que muitos stands de companhias mudaram para lugares melhores, além de vermos alguns expositores inéditos. Ou seja, muita gente desistiu de participar, o que acabou propiciando melhorias nas localizações, além de acesso a empresas que aguardavam anos na fila por um estande.
AS COMMODITIES
O consenso é de que o boom das commodities ficou para trás. Os preços atuais equivalem aos praticados em 2007, muito longe do boom de julho de 2008. A China, que puxava os preços, diminuiu seu crescimento e está buscando jogar os preços cada vez mais para baixo e reduzindo estoques, sem se importar com o efeito que isso irá causar nas suas próprias minas. O minério de ferro, hoje vendido a menos de 1/3 dos valores de pico, não parece sequer assustar as maiores produtoras que, antecipando esta possibilidade, aumentaram sua produtividade, reduziram custos, e veem este cenário com uma boa possibilidade de extinguir a concorrência dos pequenos e/ou novos produtores.
Os preços da RTZ e BHP indicam custos da ordem de U$17 e U$20 (sem impostos e frete), o que faz com que preços na faixa de U$55-60 não sejam ruins. No entanto, tais empresas em breve irão novamente às compras e provavelmente encontrarão os pequenos e/ou novos produtores em recuperação judicial ou fechados, aceitando qualquer valor por seus ativos. Certamente, a partir deste momento veremos uma recuperação dos preços do minério de ferro.
Os metais básicos e preciosos também seguem esta tendência de baixa. Mesmo tendo sido menos afetados que o ferro, igualmente sofrem por excesso de vendas. O cobre apresentou uma redução de 40% se comparado com os preços de quatro anos atrás. O alumínio reduziu em 30%, o chumbo 38% e níquel 50%. Como causas temos a redução de estoques e o excesso de vendas.
Há um consenso entre os analistas de que os preços tendem a se manter nos níveis atuais por no mínimo 5 anos, com exceção do cobre, que pode se recuperar um pouco antes, num prazo de 2 a 3 anos, movido já pela dificuldade de muitas mineradoras manterem baixos seus custos e pelo fato de os teores estarem cada vez mais baixos nas minas atuais. 
Os metais preciosos, que não são condicionados ao crescimento da indústria, seguem uma tendência própria, mais alinhados à economia e indústria joalheira, podem ter uma oscilação positiva. Divergindo deste quadro temos zinco e diamante, que mostram ser de grande interesse por parte dos investidores, face ao crescimento da indústria automobilística na Ásia e surgimento do “costume” americano de se presentear as noivas com diamante, o qual vem sendo adotado pela sociedade chinesa.
O FUTURO
Bons sinais podem vir a partir de um crescimento da Índia, com uma população de 1,29 bilhão e PIB de U$ 1,2 trilhão, se comparada com a China, cuja população alcança a marca de 1,37 bilhão e um PIB de U$ 3,3 trilhões.
O quadro abaixo mostra como a Índia pode ser um fator favorável ao novo boom. O melhor exemplo é número de carros por 1.000 habitantes. Em 2013, esse número era de 792 nos Estados Unidos, 88 na China e apenas 26 na Índia. O Brasil, em 2011, tinha 249 veículos por 1 mil habitantes.
Admitindo-se um crescimento igual neste país, teremos cerca de 62 carros a serem produzidos na Índia para cada 1.000 habitantes, em números atuais, o que significam mais de 80 milhões de veículos a serem adquiridos por indianos no futuro, se a Índia se igualar à China em poder aquisitivo. Quando isso vai ocorrer não se sabe, mas daí surge a esperança de um novo boom, talvez o último que veremos neste século, pois depois da Índia os países mais populosos Indonésia e Brasil, já tem um padrão de vida bem superior.
O efeito do crescimento de carros na Índia poderá ser estimado pelo volume de commodities contida nos carros: 1 tonelada de aço, 240 libras (lbs) de alumínio, 50 lbs de carbono, 42 lbs de cobre, 41 lbs de silício, 22 lbs de zinco, e mais trinta outros minerais como titânio, platina e ouro; e carro será apenas um dos itens de consumo da população indiana associada ao crescimento da infraestrutura. Outros exemplos como TV seguem pela mesma linha, enquanto há cerca de 950 aparelhos por 1.000 americanos este número chega a 300 na China e menos de 50 na Índia.
Luís Azevedo, é geólogo e advogado, sócio da FFA Legal Suport for Mining Companies, Diretor e fundador da ABPM e integrante do board da Talon (TSX), Avanco, Triunfo (ASX) e Brazil Minerals (OTCQB).

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