quarta-feira, 8 de abril de 2015
Estupidez não é comportamento, mas RESULTADO!
Nos primeiros passos de minha aprendizagem, tive a sorte
e a satisfação de contar com mestres que me ensinaram alguns princípios que,
apesar dos muitos anos, ainda permanecem firmes em minha mente.
Um desses princípios filosóficos é que não há essa coisa
chamada verdade “absoluta” . Uma teoria “verdadeira” é simplesmente a mais
conveniente diante das circunstâncias, é aquela que melhor explica e interpreta
o que estamos estudando.
Não sei qual é a definição categórica de estupidez,
aquela que não se pode contestar – ou mesmo se existe uma que faça sentido. Não
sei tampouco de qualquer definição de inteligência realmente adequada.
A beleza da definição de estupidez (ou inteligência) de
Carlo Cipolla (creio) é que ela não se funda em conceitos abstratos, mas em
resultados: uma pessoa ou um comportamento é estúpido ou inteligente dependendo
do que aconteça. Isso traz duas vantagens. A primeira é que define uma pessoa
(e o comportamento dela) como estúpida (ou inteligente, infeliz ou bandida) com
base nos fatos – ou pelo menos com base no nosso entendimento e definição dos
fatos. A segunda, porém de maior importância, é que focaliza o fator essencial:
não a estupidez por si mesma, mas os danos que ela causa.
Talvez existam inúmeros tipos de comportamento que são –
ou parecem ser – “estúpidos”, mas que são inofensivos. Eles estão localizados
próximos a linha neutra do gráfico de Cipolla – e de fato pertencem a essa
categoria.
Por exemplo: participar de uma diversão com amigos e rir
alto pode parecer “estúpido” aos olhos dos outros, mas, de acordo com a Teoria
de Cipolla, tal comportamento é provavelmente classificado como “inteligente”.
E de fato é, vez que a alegria da diversão compartilhada é maior que os
inconvenientes ou aborrecimentos causados aos demais. De modo geral, a
inteligência (ou a vantagem prática) de tal comportamento, limita-se a um
momento de bom humor, mas muito frequentemente provoca também efeitos mais
importantes, gerando ideias e estimulando a cooperação, o que não seria
possível em um ambiente tedioso.
Uma pessoa ridícula ou “maluca” pode ter uma
extraordinária inteligência, enquanto uma pessoa “sisuda” pode ser bastante
estúpida, em parte porque o pensamento criativo é, com frequência, visto como
ridículo ou “maluco” pelas pessoas que não o entendem.
Isso nos remete ao importante tema da relevância do
pensamento não linear (assim como a emoção e o humor) em todos os processos
mentais e, em especial, no processo criativo. Para discutir esse assunto com
clareza eu precisaria de muito mais espaço do que há disponível neste site.
Permita-me dizer, porém, que a distinção entre o modo de pensar com a parte
esquerda e o com a parte direita do cérebro pode ser interessante para
experimentos clínicos, mas, a meu ver, deveria ser evitada na observação do
comportamento humano de modo geral. A razão é que a estrutura do ato de pensar
não é tão simples assim, e, em todos os casos, os processos de percepção e de
pensamento funcionam sempre juntos e são mais bem entendidos se vistos como um
todo, e não como a soma das partes separadas.
0 comentários:
Postar um comentário