quarta-feira, 8 de abril de 2015

Estupidez não é comportamento, mas RESULTADO!

Enviado por Fernando Lemos
Nos primeiros passos de minha aprendizagem, tive a sorte e a satisfação de contar com mestres que me ensinaram alguns princípios que, apesar dos muitos anos, ainda permanecem firmes em minha mente.
Um desses princípios filosóficos é que não há essa coisa chamada verdade “absoluta” . Uma teoria “verdadeira” é simplesmente a mais conveniente diante das circunstâncias, é aquela que melhor explica e interpreta o que estamos estudando.
Não sei qual é a definição categórica de estupidez, aquela que não se pode contestar – ou mesmo se existe uma que faça sentido. Não sei tampouco de qualquer definição de inteligência realmente adequada.
A beleza da definição de estupidez (ou inteligência) de Carlo Cipolla (creio) é que ela não se funda em conceitos abstratos, mas em resultados: uma pessoa ou um comportamento é estúpido ou inteligente dependendo do que aconteça. Isso traz duas vantagens. A primeira é que define uma pessoa (e o comportamento dela) como estúpida (ou inteligente, infeliz ou bandida) com base nos fatos – ou pelo menos com base no nosso entendimento e definição dos fatos. A segunda, porém de maior importância, é que focaliza o fator essencial: não a estupidez por si mesma, mas os danos que ela causa.
Talvez existam inúmeros tipos de comportamento que são – ou parecem ser – “estúpidos”, mas que são inofensivos. Eles estão localizados próximos a linha neutra do gráfico de Cipolla – e de fato pertencem a essa categoria.
Por exemplo: participar de uma diversão com amigos e rir alto pode parecer “estúpido” aos olhos dos outros, mas, de acordo com a Teoria de Cipolla, tal comportamento é provavelmente classificado como “inteligente”. E de fato é, vez que a alegria da diversão compartilhada é maior que os inconvenientes ou aborrecimentos causados aos demais. De modo geral, a inteligência (ou a vantagem prática) de tal comportamento, limita-se a um momento de bom humor, mas muito frequentemente provoca também efeitos mais importantes, gerando ideias e estimulando a cooperação, o que não seria possível em um ambiente tedioso.
Uma pessoa ridícula ou “maluca” pode ter uma extraordinária inteligência, enquanto uma pessoa “sisuda” pode ser bastante estúpida, em parte porque o pensamento criativo é, com frequência, visto como ridículo ou “maluco” pelas pessoas que não o entendem.

Isso nos remete ao importante tema da relevância do pensamento não linear (assim como a emoção e o humor) em todos os processos mentais e, em especial, no processo criativo. Para discutir esse assunto com clareza eu precisaria de muito mais espaço do que há disponível neste site. Permita-me dizer, porém, que a distinção entre o modo de pensar com a parte esquerda e o com a parte direita do cérebro pode ser interessante para experimentos clínicos, mas, a meu ver, deveria ser evitada na observação do comportamento humano de modo geral. A razão é que a estrutura do ato de pensar não é tão simples assim, e, em todos os casos, os processos de percepção e de pensamento funcionam sempre juntos e são mais bem entendidos se vistos como um todo, e não como a soma das partes separadas.

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